domingo, 14 de junho de 2009

5 - CUBA- Diário: Santiago-Guantânamo-Bayamo-Manzanillo

DIA 09-JUNHO-2009 TERÇA – BAYAMO(130mh) – SANTIAGO DE CUBA(470mh)

9:00 Rumo a Guardalavaca(praia) em Holguin ou direto para Santiago, dependendo do tempo.
10:40 Colocamos gasolina e calibramos pneus em Guaiamaro, cidade histórica onde foi declarada a 1ª. Constituição Cubana. Decidimos ir direto para Santiago, via Las Tunas e Bayamo. As mulheres estavam ficando um pouco paradas enquanto os homens mergulhavam.
12:30 Chegamos a Bayamo, “ a rebelde”, a segunda mais antiga de Cuba, fundada em 1513 por Diogo Velásquez. Paramos na Plaza de La Revolucion. O hino nacional de Cuba, La Bayamesa, foi executado pela primeira vez nessa praça. Foi uma das principais cidades de apoio a guerrilha de Sierra Maestra, que fica ali pertinho. Mais uma cidade colonial bem cuidada. Comemos Pizzas.
13:50 Rumo a Santiago(130 km). Na beira da estrada, saída de Bayamo, bustos dos heróis da terra que morreram na luta em Sierra Maestra.
17:00 Sol ainda forte, 35 graus, chegamos a velha Santiago de Cuba, a mais africana, musical e apaixonante cidade de Cuba. Berço da Revolução. Pelas ruas estreitas procurávamos hotel. Calle Heredia. Calle Enramada. De repente um enxame de roupas vermelhas com lenços azuis ou vermelhos no pescoço. Eram os estudantes primários voltando para casa. Centenas deles. Alguns de mãos dadas com suas mães ou avós ou na garupa da bicicleta do pai, mas a maioria desgarrada, brincando, dançando, chupando sorvete, gritando, fazendo algazarra. Numa situação inusitada de alegria. Felizes como pinto no lixo.
Sentamos no meio fio, com Bucanero na mão, cerveja forte e gostosa, e ficamos apreciando aquele movimento de estudantes, sublime como uma procissão, se arrastando feito cobra. Esse sim, o maior espetáculo da terra. Confesso que lágrimas desceram. Ficamos com uma esperança engasgada no coração.
Em Cuba, um pais pobre, que vive principalmente do Turismo e da agricultura, a população passa aperto para garantir suas crianças na escola em tempo integral. Entram as 8:00 e saem às 17:30. Isto é uma rotina sagrada. Todos que conversamos foram unânimes em não abrir mão desse direito. O estudo é obrigatório até o equivalente ao nosso 2º. Grau.
Ficamos no Gran Hotel, calle Enramada, bem no centro histórico. O carro podia estacionar na rua de lado. Nenhum hotel até agora aceitou cartão. O mais econômico e prudente é levar Euros e trocar por CUC, o peso cubano convertível.
19:00 Demos uma volta no Parque Céspedes, a antiga Plaza das armas, onde está a Catedral de La Asunción, Hotel Casa Granda, Casa de Diogo Velásquez e o Ayuntamiento (prefeitura) onde no balcão central, Fidel fez seu primeiro discurso ao povo cubano, em 1º. de janeiro de 1959.
Dali fomos pertinho a Casa de La Trova, onde sempre tem musica cubana ao vivo. Comemos Cerdo, sanduíches, e muito mojito, ao som de Besame Mucho, Dos Gardênias e Guantanamera.

DIA 10-JUNHO-2009 QUARTA – SANTIAGO

8:30 – Saída para o Parque Baconao (50km). Passamos em Vila Siboney, Laguna, Aquário (o show com golfinhos já tinha acontecido – 10:30), Vale da Pré-história e Museu do Automóvel, o que realmente valeu a pena no passeio. Só a parte de miniaturas tem 4 mil exemplares, toda a história dos autos. Quem gosta do assunto é uma parada magnífica. Tem carros antigos que pertenceram a varias personalidades, como Benny Moré, Raul Castro,...
13:30 – Fomos fazer a revisão de 20 mil Km. do carro. 2 horas. Aproveitamos para almoçar.
16:00 – Partimos para o Castillo Del Morro (8Km ) . Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. A fortaleza foi erguida em 1638, para defender a cidade dos piratas, era capaz de alojar 400 soldados. A vista da baía de Santiago é belíssima, contrastando com a Sierra Maestra.
18:00 Fomos até a casa das Tradições, mas a musica só iria começar às 21:00. O ambiente é aconchegante. Lá toca a velha guarda dos músicos de Santiago. Berço de Compay Segundo.

DIA 11-JUNHO-2009 QUINTA – SANTIAGO

9:15 – Andamos até o Parque Abel Santamaría, onde fica o Quartel Moncada, que em 26-julho-53, no auge da celebração do famoso carnaval de Santiago (segundo eles só perdem para o Rio), Fidel liderou cerca de 100 rebeldes num ataque ao quartel. Hoje o prédio abriga uma Escola, mas tem um museu onde é contado por um guia toda essa história até a tomada do poder por Fidel. Mais de uma hora de explanação, com fotos e objetos dos eventos, contada por uma guia, professora de história, de uma maneira tão didática, que faz consolidar e alinhar na gente a história da Revolução cubana. Nota 10. João resumiu assim o que a professora falou na investida do quartel de Moncada:
- O Partido Ortodoxo, contra o governo, vence as eleições. Mas sob patrocínio americano, Fulgêncio Batista toma o poder num golpe de estado, mesmo tendo perdido as eleições (já nesse momento o povo se rebela, ainda que pacificamente).
- Fidel, como advogado renomado, vai a Corte Suprema pedir que o governo de Batista seja considerado ilegítimo. Com a resposta negativa da Corte Suprema, Fidel percebeu que não poderia haver possibilidade de um governo democrático por voto popular.
- Fidel, Raul, Abel Santamaria e mais uma centena de cubanos contrários ao golpe tentam tomar o quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953 (exatamente no centenário de nascimento de José
Marti, o maior herói cubano até hoje), entrando no quartel durante a troca das guardas vestidos como soldados. Foram descobertos, por um detalhe banal, o guarda percebeu que eles não usavam sapatos militares, e isso custou a vida de dezenas de rebeldes, executados, principalmente do grupo de Abel Santamaría.
- Raul e Fidel fogem do massacre, mas são capturados dia 31 de julho e 1 de agosto, respectivamente. Não são executados porque os policiais que os capturam os apresentam a polícia e a imprensa, pois sabiam que seriam fuzilados se os entregassem ao exército. Outro exemplo de que os cubanos, mesmo sendo da polícia, queriam um novo governo.
- Fidel é exilado com outros cubanos e cria o Movimento 26 de Julho.
- No México, Raul, que conhecera Che Guevara na Guatemala, o apresenta a Fidel e se dá início ao planejamento para a tomada do governo cubano, na mão de Fulgêncio Batista.

Na saída do Moncada pegamos uma chuvinha. Fomos até a Casa Bacardi, o pioneiro do rum em Cuba e ao museu do Ron, fraquinho, mas tomamos umas.
12:00 Almoçamos no Hotel Casa Granda, no parque Céspedes, onde podemos avistar toda a praça.
15:30 Fomos( Lelé, Beth e João) a El Cobre, 30Km, onde está a Basílica de Nuestra Señora de La Caridad. A igreja mais famosa de Cuba. A Vingen del Cobre foi proclamada padroeira de Cuba e abençoada pelo Papa na sua visita em 1998. A estátua da Virgem Negra é ricamente vestida em amarelo com coroa de diamantes, esmeraldas e rubis. A basílica é objeto de peregrinação vindas de todas as partes da ilha. Na capela de Los Milagros há milhares de bugigangas deixadas por romeiros. Algumas curiosas como medalha do Prêmio Nobre de Hemingway, barbas de rebeldes da Sierra Maestra, muitas medalhas de atletas ganhas em olimpíadas e pan-americanos, e bolas de beisebol. Em termos de conforto é um saco, dezenas de santeiros em cima de você prá vender estatuas.
21:00 Quando íamos saindo para a Casa da Trova percebemos que um pneu do nosso carro estava furado. Chamamos a assistência técnica, e eles foram resolver o problema. Botaram um pneu novo, pois o outro não dava prá remediar. Mas levaram quase 2 horas. Helinho foi com o mecânico na assistência, e veio com historias interessantes dele. Foi professor na Nicarágua, mas o seu sonho era dirigir um reboque. Estava satisfeito com a vida em Santiago, mas achava o salário dos cubanos muito baixo. Achava também que estava havendo uma melhora em relação a década que passou. Época boa mesmo, era quando Cuba fazia parte do bloco soviético. Santiago era um Carnaval contínuo, com as ruas repletas de gente até madrugada. Não abria mão dos direitos conquistados como escola pras crianças e sistema de Saúde adequada. Em Cuba a expectativa de vida é 10 anos superior a do Brasil.
Tomamos umazinhas no Hotel. Era o último dia do Helinho conosco.

DIA 12-JUNHO-2009 SEXTA – GUANTÁNAMO(200mh) – MANZANILLO(50mh) (SIERRA MAESTRA)

6:30: Deixamos o hotel rumo ao aeroporto de Santiago para o Helinho pegar o vôo para Havana, e no outro dia retornar ao Brasil. A gente ia prosseguir a viagem por mais uma semana. Hoje até
Guantânamo, com destino final de Manzanillo, na Sierra Maestra.
7:00 Tomamos café no Aeroporto. Helinho fez check-in para o vôo das 9:25 para Havana. Nos despedimos e rumamos para Guantânamo às 8:00.
9:45 Chegamos em Guantânamo, fomos até o Parque Martí. Cidade com muitos coches. O Mirador de los Malones, a 20 km. do centro, onde podíamos ver a base naval americana através de luneta, está fechado desde 2008 para visita publica. Ficamos meios frustrados.
Recebemos noticias do Helinho, informando que o vôo estava atrasado, sem previsão de saída (o atraso foi de 7 horas!!!). Pegamos a estrada de volta com destino a Manzanillo(260km).
13:00 Passamo novamente em Bayamo. Parada para almoço (Cedro assado, com ferijão e arroz). Cobrança em peso cubano.
15:30 Chegamos a Manzanillo. Ficamos no Hotel Guacanayabo, vista para o mar, única hospedagem na cidade, a não ser casas particulares. Não é uma cidade turística, não há qualquer assédio a gente. Muito bem cuidada, charmosa e litorânea, na beira da baía de Guacanayabo, a alguns quilômetros onde os rebeldes desembarcaram no Granma em dezembro de 56. Grata surpresa.
17:00 Fomos ao centro da cidade. Estacionamos no Parque Céspedes. No centro da praça um coreto chamado Glorieta Morisca, decoração de influência árabe. Andamos pelas ruas estreitas e bem cuidadas, com casas coloniais, e a população inteira na calçada, batendo papo, jogando dominó ou xadrez, as diversas cores dos carrões da década de 50 fazia a decoração do ambiente. Bonito de ver. Longe das pragas turísticas uma cidade bonita com povo humilde, orgulhoso, alegre. Em toda a casa retrato de Fidel e busto de Martí.
Vimos que em qualquer cidadezinha de Cuba tem, pelo menos, uma escola bem aparelhada, um pronto-socorro com ambulância novinha e uma micro-universidade de ciências médicas, para fornecer mão de obra especializada na área médica para a região.
18:30 Fomos ver o por do sol no Malecon, avenida a beira-mar de Manzanillo. Uma nuvem carregada deu o ar de surpresa, fazendo um arco-iris duplo se espalhar na belíssima baía, repleta de pelicanos e albatroz com seus vôos rasantes. Belo Espetáculo. E ainda por cima recebemos mensagem de Helinho dizendo que tinha chegado bem em Havana.
No Malecón, estátuas de mulheres e sereias em homenagem a revolucionária Célia Sanchez, filha da terra, braço direito e companheira de Fidel na guerrilha de Sierra Maestra. Ela era a intendente mor da revolta. Ficava na cidade gerenciando o suprimento de armas, munições, alimentos e remédios essenciais para a sobrevivência dos rebeldes. Morreu de câncer em 1980, ainda jovem, mas deixou várias obras sociais como secretária e conselheira política de Fidel. É tida como heroína do povo cubano.
20:00 Jantamos em restaurante chinês, um pouco diferente da comida chinesa no Brasil. Mas bonzinho. Como não é cidade turística, é cobrado tudo em pesos cubanos desde Bayamo. Curiosidade: O restaurante fica na praça principal, e em frente, num telão, passava um filme chinês, tipo Kung-fu, com uma presença muito grande da população local. Em pé.

DIA 13-JUNHO-2009 SÁBADO – MANZANILLO - SIERRA MAESTRA

9:50 Depois de uma volta no centro, partimos com destino a Cabo Cruz, ponto mais ao sul de Cuba, na Sierra Maestra, passando por Media Luna e Playa las Coloradas, lugar do desembarque dos rebeldes em 56.
10:40 Chegamos em Media Luna (34 km) coincidentemente com a lua quarto minguante aparecendo no céu. A cidade é pequena e movimentada, foi onde nasceu Célia Sanchez. Uma cena nos comoveu na entrada de Media Luna. Paramos o carro para perguntar o caminho a ser seguido a um camponês meio maltrapilho. Dada a resposta o camponês nos perguntou de onde éramos e ficou entusiasmadíssimo ao saber que somos do Brasil. Nos saúda com um “viva Lula!” e recebemos um forte aperto de mão. Devolvemos na mesma moeda: “ Viva Fidel!”. Visitamos a casa onde Célia nasceu. Tem um acervo de seus pertences e fotos históricas. Fomos muito bem recebidos por uma professora que contou a história da revolucionária. É um ídolo na região.
11:30 A partir daqui a estrada começa a ficar cheia de buracos. À medida que nos afastamos dos grandes centros como Havana e Santiago, a quantidade de bicicletas e triciclos nas estradas aumenta exponencialmente. A atenção na estrada precisa ser então redobrada.
12:00 Playa las Coloradas (41 km). O desembarque do Granma mesmo foi a 1,8 km depois, num manguezal, onde hoje tem um mini museu, uma réplica do barco Granma ( o original está no Museu da Revolução em Havana) e a casa de taipa do primeiro camponês que deu guarita aos guerrilheiros. Dalí temos que andar cerca de 2km por uma calçada cercada de mangue até chegar no local onde o Granma encalhou num recife em 2 de dezembro de 1956, depois de navegar 1200 milhas em mar agitado pelo golfo México.
A nossa Guia, Jade, muito bem informada, 30 anos, mora com uma filha a 4 km no sentido da Playa las Coloradas. Além de andar frequentemente os 4 km como guia, vai pra casa a pé. Adora as novelas brasileiras , estava passando “Forças do desejo”. Seu grande sonho é conhecer o Rio. Seu grande ídolo, Fidel. Se acha uma mulher livre por poder deixar o filho na escola em tempo integral e poder trabalhar sem preocupação. Não abre mão deste direito. Tem o segundo grau completo e se expressa muito bem. Acha o salário pequeno, mas se vira com as gorjetas que ganha como guia. No lugar que estávamos era mangue fechado, tinha lugares com areia mole, como movediça. Os 82 caras do Granma devem ter penado para passar pelo trecho. Já vinham com 3 dias sem comer, mareados, sem água, e totalmente desidratados. Chegaram com dois dias de atraso e o pessoal que devia esperá-los em terra, na Playa las Coloradas a 1,8 km, já tinha voltado, pois as tropas de Batista já estava no seu encalço. Poucas horas depois da chegada estavam sob ataque aéreo e terrestre. Vários foram mortos e presos. Até a vitória da revolução só sobreviveriam 21 destes 82, entre eles Fidel, Raul, Camilo e Che.
13:20 Cabo Cruz (12 km). De Media Luna prá cá estrada muito ruim, esburacada, a pior que pegamos. Mas o lugar é imperdível. Além de histórico, muito charmoso, muita acácia frondosa de flor vermelha e mangueira na beira da estrada. Cabo Cruz, tem um farol, sinalizando o lugar mais ao sul de Cuba e mar claríssimo. Apesar de uma pequena correnteza, deu prá a gente mergulhar à vontade. Até Maria se aventurou no mergulho. Almoçamos maravilhosamente bem, cioba grande frita, posta de badejo, e bebemos a vontade. Também cobrado em pesos cubanos. Muito barato mesmo.
20:20 Volta na praça principal de Manzanillo. Sábado a noite tem missa na Igreja, lotada. Fomos barrados num restaurante italiano porque eu estava de bermuda. Fomos para o Dinos Pizza.
22:00 Ao voltarmos para o hotel nos deparamos com uma cena inusitada. Um mafuá de jovens casais, muito bem vestidos, em frente ao nosso hotel. Dezenas deles, no maior chamego, esperavam a sua vez de pegar um quarto disponível. O hotel, único na cidade, se fazia de motel em fins de semana.

Um comentário:

  1. Muito legal o passeio de vcs e bem interessante as dicas dadas, agora já posso visitar Havana com mais segurança.
    E o mais legal é saber que essas dicas foram dadas por um VASCAINO, tu és uma pessoa visivelmente inteligente sr° lelé.

    Sudações VASCAINAS

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